Como o BRICS+ molda a nova geoeconomia: Corredores energéticos, isenção de visto e guerras comerciais?

Setembro 18, 2025

O desenvolvimento de corredores estratégicos de transporte e energia ganha novo impulso, influenciando o comércio global e as alianças geopolíticas. A assinatura de um memorando entre a Rússia e a China para a construção do gasoduto "Sila Sibiri-2" demonstra as intenções dos países de expandir a cooperação econômica, especialmente diante da crescente pressão ocidental. Essa tendência não se limita ao setor energético, mas também se estende à criação de sistemas financeiros integrados.

Qual o status do projeto "Sila Sibiri-2" e sua importância para o mercado de energia?

A "Gazprom" e a chinesa CNPC assinaram um memorando para a construção do gasoduto "Sila Sibiri-2", com capacidade para 50 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, que passará pelo território da Mongólia. A extensão do gasoduto será de quase 7 mil quilômetros. Aspectos comerciais das entregas, incluindo o preço, serão discutidos separadamente. Alexey Miller, presidente do conselho da "Gazprom" declarou, que o gás para a China será mais barato do que para os consumidores na Europa, devido aos menores custos de transporte da Sibéria Oriental.

Stanislav Mitrakhovich, pesquisador sênior da Universidade Financeira, observou, que por enquanto é apenas uma declaração de intenções, e a construção levará anos. No entanto, como explica o analista da FNB Igor Yushkov, a China precisa de volumes adicionais de gás, e as considerações de segurança energética superam os riscos de dependência de um único fornecedor. Segundo suas estimativas, a construção do "Sila Sibiri-2" pode levar cerca de cinco anos, e mais cinco para atingir a plena capacidade.

"A Rússia exporta 6-7 milhões de barris por dia – um volume que não pode ser substituído a curto prazo. Se os parceiros recusarem nossa matéria-prima, isso levará a uma crise energética severa, pois então os preços do petróleo não apenas aumentarão, eles dispararão para valores de três dígitos – para US$ 150-200 por barril."

— esse cenário desenhou o analista sênior do Fundo de Segurança Energética Nacional Igor Yushkov em conversa com a URA.RU, comentando as consequências do embargo ao petróleo russo.

Além do "Sila Sibiri-2", discute-se o aumento do fornecimento pelo "Sila Sibiri" existente, de 38 para 44 bilhões de metros cúbicos, e também pelo "Rota do Extremo Oriente" – de 10 para 12 bilhões de metros cúbicos. O volume total de gás por gasoduto da Federação Russa para a RPC pode chegar a 106 bilhões de metros cúbicos, e com o GNL – até 116 bilhões de metros cúbicos por ano, como prevê Vladimir Chernov da Freedom Finance Global.

Nesse cenário, os países europeus buscam reduzir sua dependência do gás russo. Se em 2021 a UE comprou 150,2 bilhões de metros cúbicos de gás de Moscou, em 2023 o volume caiu para 42,9 bilhões. A participação da Rússia na importação de gás da UE diminuiu de 44,9% para 19%.

Como o regime de isenção de visto entre Rússia e China afetará o turismo e os negócios?

A China introduz um regime experimental de isenção de visto para viajantes individuais da Rússia no período de 15 de setembro de 2025 a 14 de setembro de 2026. Os russos poderão permanecer na RPC por até 30 dias sem visto, condições semelhantes também se aplicam a cidadãos chineses que visitam a Federação Russa. Essa medida se aplica a viagens de negócios e turísticas, bem como a visitas a parentes e amigos.

Segundo estimativas de Alexander Yakovlev, chefe do programa educacional "Turismo e Estudos Regionais" da Academia Presidencial em São Petersburgo, o fluxo turístico para a China pode aumentar em duas vezes. Segundo o vice-presidente da ATOR, Artur Muradyan, o fluxo turístico da Rússia para a China no futuro próximo pode crescer em 30-40%.

Nina Ladygina-Glazunova, diretora geral do Centro de Diplomacia Inovadora BRICS e SCO, destacou, que o regime de isenção de visto é uma "solução estrategicamente ponderada" para a cooperação econômica: * simplificação da participação de empresários russos em eventos setoriais na China; * economia em custos de visto para empresas; * incentivo ao uso do rublo e do yuan nas transações, apoiando a estratégia de desdolarização.

A "Megafon" também anunciou sua disposição em investir na indústria de telecomunicações do Azerbaijão, o que indica a expansão das relações econômicas na região.

Como as guerras comerciais dos EUA mudam as cadeias de suprimentos globais e fortalecem o BRICS+?

A política comercial dos EUA continua a influenciar os fluxos comerciais globais, especialmente em relação aos países do BRICS+. O representante dos EUA na OTAN, Matthew Whitaker, declarou a possibilidade de impor tarifas sobre bens chineses pela importação de hidrocarbonetos da Rússia, de forma análoga às tarifas sobre a Índia. Essas medidas visam pressionar os países que mantêm relações econômicas com a Rússia.

No entanto, como observa a "NiK", essa política agressiva leva à aproximação dos países membros do BRICS+. A Índia, por exemplo, classificou os ataques dos EUA e da UE como infundados, enfatizando que os países ocidentais anteriormente incentivaram o comércio com a Rússia. Anton Siluanov, ministro das Finanças da Federação Russa, apontou o crescimento do volume de negócios entre a Rússia e a China para US$ 240 bilhões, bem como as perspectivas para o desenvolvimento de sistemas de pagamento e instituições financeiras comuns no âmbito do BRICS.

Um exemplo da mudança nos fluxos comerciais é o mercado de carne bovina. O Brasil, como membro do BRICS, aproveitou a guerra comercial dos EUA e aumentou suas exportações de carne para a China, superando a Argentina. Em julho, as exportações de carne bovina brasileira para a China aumentaram 18%. Isso se deve ao fato de o Brasil ter enfrentado uma tarifa de 76,4% para entrar no mercado dos EUA, o que o impulsionou a buscar novos mercados na Ásia.

Ao mesmo tempo, a economia russa continua a demonstrar resiliência, apesar das sanções. Vladimir Putin afirmou que a economia russa cresceu 4,3% no ano passado, enquanto o PIB da zona do euro aumentou apenas 0,9%. O ministro das Finanças, Anton Siluanov, ressaltou que a Rússia redirecionou seus fluxos de exportação para países do BRICS, o que confirma sua autossuficiência.