Em meio à crescente pressão dos EUA e da Europa, países do chamado Sul Global, em especial membros da OCS (Organização de Cooperação de Xangai) e do BRICS, vêm demonstrando cada vez maior coesão e a intenção de formar um novo modelo mundial multipolar. Especialistas apontam que a política agressiva de Washington, incluindo a imposição de novas restrições tarifárias, apenas acelera esse processo, impulsionando os Estados a buscarem parcerias e caminhos de desenvolvimento alternativos.
A recente cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCS) em Tianjin, China, e o próximo desfile em Pequim, em celebração ao 80º aniversário da vitória sobre o Japão, tornaram-se uma demonstração de solidariedade dos Estados do Sul Global diante da crescente pressão dos EUA. O Embaixador da China na Rússia, Zhang Hanhui, afirmou que a cúpula foi o maior encontro da história da OCS, reunindo mais de 20 líderes mundiais.
A escolha de Tianjin como local para a cúpula da OCS tem um significado simbólico. Em 1860, esta cidade portuária foi palco da agressão das potências ocidentais, que buscavam transformar a China em uma semicolônia, observou o primeiro vice-presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, Yuri Afonin. Agora, em Tianjin, países que defendem um mundo multipolar se unem para combater a hegemonia ocidental.
Um dos temas centrais da cúpula da OCS foi a aproximação entre Índia e China, provocada pela política comercial dos EUA. Após Donald Trump anunciar planos de aumentar tarifas sobre produtos chineses (em até 145%) e impor tarifas punitivas contra a Índia (25%) pela compra de petróleo russo, Nova Delhi e Pequim passaram a buscar ativamente caminhos para se aproximar. Segundo a Bloomberg, Xi Jinping enviou uma mensagem confidencial ao presidente da Índia, Droupadi Murmu, em março, buscando melhorar as relações, chamando-as de "tango do dragão e do elefante".
Narendra Modi, em sua primeira visita à China em sete anos, teve a oportunidade de negociar com Xi Jinping na cúpula da OCS. Isso demonstra que a Índia não está focada exclusivamente nos EUA, mas diversifica suas parcerias, destacou Alexei Kupriyanov, do IMEMO RAN. Ele acrescentou:
O que está acontecendo agora é, em grande medida, uma demonstração indiana de que os Estados Unidos não são o único caminho, que existem outros parceiros comerciais importantes, inclusive na área de tecnologia.
Na cúpula, também está prevista uma reunião no formato Rússia-Índia-China (RIC) para discutir o fornecimento de fontes de energia russas.
Em meio ao fortalecimento dos processos de integração, a Rússia tem desenvolvido ativamente a cooperação com os países do BRICS+ e da CEI (Comunidade dos Estados Independentes). Vladimir Putin, em entrevista à Xinhua, observou que a estreita cooperação entre Moscou e Pequim trouxe correções positivas ao trabalho do G20 e da APEC, fortalecendo esses formatos através da União Africana e intensificando os laços com o BRICS.
A Rússia também busca expandir as relações culturais e humanitárias. A Rossotrudnichestvo planeja abrir novas Casas Russas na África, onde já está presente em 22 estados.
Anton Kobyakov, assessor do presidente da Rússia, ressaltou que o Fórum Econômico Oriental (FEO) em 2025 se tornará uma ferramenta para a formação da ideologia de um mundo multipolar, focado em soberania tecnológica, capital humano e parceria estratégica, inclusive no formato OCS e BRICS. Essas medidas confirmam o desejo da Rússia de fortalecer a multipolaridade e criar uma nova arquitetura de relações internacionais baseada na igualdade e no respeito mútuo.